segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Música que o Pastor não curte I

Esses dias viajando na internet em busca de músicas novas em discos velhos, me deparei com um negócio que me chamou a atenção. A capa, organizada como uma pintura à óleo em tons vermelhos com detalhes em branco, azul e tantas outras cores, parecia uma pintura sacra totalmente ao contrário. Era a capa do disco Thou Shall Boogie Forever, do grupo Sins Of Satan. Isso mesmo, Os Pecados do Diabo. Forte né? Se o nome e a capa são fodas, tem que ouvir o som. 
Pra dar um tapa na cara do quem gosta de funk e disco music, os cinco caras de Detroit têm uma pegada pesadíssima no que diz respeito ao groove e as linhas de baixo da música negra setentista. O disco de 1974 saiu pelo selo Buddah e não teve grande destaque fora do circuito de quem já conhecia as obscuras bandas de Detroit. Com exceção da quinta faixa, Dance And Free Your Mind, que foi tocada por algumas estações de rádio pequenas, o restante ficou mesmo para ser garimpado pelos apreciadores da boa black music. O grande responsável por trás do quinteto de Motor City é o produtor Jimmy Roach, que manja muito de funk e soul music de raíz.
O play tem oito músicas que não baixam a guarda desde o início, do jeito que o Diabo gosta. Começa com o medley We Are The Sins Of Satan e a sugestiva Devils Disco, a própria discoteca do capeta. Na sequência o groovezão com toques de sintetizador Your Love Is Like Candy: um refrão bem chiclete que precede muito oque se escutou na década de 80 em termos de música disco. A combinação de piano e instrumentos de sopro com um baixo alinhado e uma melodia "sexta-à-noite" formam a faixa três, How Would You Feel. Saindo de um clima sexy pra entrar no ato consumado com a quarta faixa: Sunshine Girl é a trepada depois da festa de sexta à noite. Sintetizador e uma percussão intimista com dedilhados leves no piano. Encaixa perfeitamente em qualquer cena de amor dos blaxploitations da época. O ritmo sobe com a faixa mais conhecida do álbum, Dance And Free Your Mind. Vocal suave do Lester Williams e sopros fortes pra incrementar a brincadeira. Depois de ouvir as primeiras cinco faixas já dá pra ter uma boa noção da qualidade com que o disco foi produzido, mas quando entra Rope-A-Dope com uma guitarrinha wah-wah na introdução, bongô e outra guitarra fuzz rasgadíssima, se sabe porque esse é o som do inferno. É o Diabo próprio tirando sarro enquanto as almas amaldiçoadas pagam o preço eterno por uma vida de pecados. A penúltima música, Autumn, baixa a bola e é quase um diálogo. Backing vocals masculinos mais ou menos afinados e toda a melosidade dos blacks da época. O disco se fecha com o funk-disco Heavy Traffic, que segue a linha do resto do disco e fecha com chave de honra. 
Thou Shall Boogie Forever é um êxito em termos de produção e elaboração de arranjos. Um pérola infernal que, felizmente, poucos conhecem. É o tipo de música que nem todos entenderiam. Som malvado do início ao fim. Vale mesmo o downloads.

 
"Foi ouvindo esse disco que resolvi filmar Rambo. Baixa ele aqui ó!"
- Sylvester Stallone 


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Tonho Crocco e o Teto (nem tão) Solar de Londres

Na minha última semana em Londres fiquei sabendo que o Tonho Crocco tava por lá trabalhando. Desde o hiato em que a banda Ultramen entrou em 2008, Tonho tá criando e gravando e projetando bastante coisa nova. Primeiro ele foi ao Brooklyn, em NY, para preparar seu lançamento mais recente, o EP Teto Solar (SMD, Julho/2008). O disquinho reúne quatro músicas inéditas com direito a um remix no final. Todos os cinco sons refletem bem as influências do Tonho, desde Bebeto até Stevie Wonder e Raggamuffin(!!).
O EP foi só a azeitona, porque o prato principal tá pra sair do forno e já tem até nome definido: O Lado Brilhante da Lua, que vai ser masterizado nos estúdios da Abbey Road em London. Tonho chegou na capital inglesa em julho e fica até setembro. Nesse meio tempo ele tem colecionado gigs em bares e festas brasileiras conhecidas lá no velho continente. É aí que eu entro. Ví no twitter do Tonho que ele iria tocar no bar Barraco, em Kilburn, e entrei em contato com ele. Na noite do mesmo dia tive o prazer de ouvir o "British Tonho", que em nada difere do "Brooklyn Tonho" ou do "Porto Alegre Tonho", mas o grande lance é o ambiente e a vibe que rola. Naquela noite tinham duas menininhas que atentamente ouviam o som, sentadas na frente do Tonho. Hipnotizadas com a seleção finíssimas de músicas tupiniquim do ex-Ultramen.
Nós aqui do Brasil vamos esperando oque o homem nos prepara. Ouvindo o trabalho clássico do Tonho, já dá pra ter certeza que a sequência não vai ser fraca. Mas por enquanto deixemos o cara lá sob o teto nem tão solar de Londres.




"Sempre que eu escuto o som do Crocco, eu me sinto uma máquina!" - Stallone curte o som do Tonho Crocco